Pode não acontecer nesta ordem ou
proporção, mas um dia acordaremos atrasados e não daremos conta do significado
de alguns minutos a menos em nossa rotina. Lapso involuntário. Noutro dia notaremos
que nosso bom dia dito numa sala cheia virou apenas um eco da nossa própria voz. Rotina desconfortável. Mais além, nos sentiremos
praticamente invisíveis, pois ninguém mais notará nossa presença ou nossa ausência.
É o limbo do tanto faz. Um pouco adiante
poderemos constatar que ninguém mais tem tempo para nos ouvir ou para nos dar
alguma atenção. É a consciência tardia.
É nesse instante que não nos custará nada
perceber outras tantas coisas que revelam nossa total desimportância. É justamente
nesse tempo que talvez pensemos em nos recolher à nossa insignificância e tentar
rebobinar o filme de nossas vidas em busca das falhas de continuidade da
película em que fomos protagonistas ou coadjuvantes.
Talvez possamos acreditar que ainda dá
tempo de remasterizar, reciclar, cortar e editar o que for possível dos rolos de
nosso filme para tentar um final menos melancólico. Mas logo chegaremos à
conclusão que finais felizes só existem no cinema e dependem de bons roteiros,
bons atores, boa trilha sonora, bons diretores e um monte de etecéteras... Então
pensaremos, ao refletir sobre nossa completa desimportância: “Quem sou eu para
querer tanta coisa e ainda por cima um final feliz? Corta!”. Então talvez nos
ocorra que, apesar de tudo, ainda poderemos fazer de nossa película “B” um verdadeiro
cult movie. “Gravando!”
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Publicado na coletânea "A Pizza Literária - décima segunda fornada"
Rumo Editorial - São Paulo - 2012
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Rumo Editorial - São Paulo - 2012
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