BORBOLETAS
AZUIS
“Tem
dias, que nem sei de onde, surge uma borboleta azul enorme e linda em minha
manhã. Ela entra pela fresta duma janela, pelos vãos da cortina, e
displicentemente se instala em mim. Sobrevoa meu dia, borboleteando no seu
jeito desajeitado de ser borboleta. Ela se insinua e logo escapa, como quem não
quer nada com nada e não está nem aí com seu jeito efêmero de ser uma borboleta
grande e azul. Com ela eu me divirto, eu sorrio novamente, eu volto a viver.
Borboleteio com ela nessas horas, pois nada melhor que a despretensão desses
voos desajeitados. Borboletas azuis aparecem sempre que sabem que são
necessárias, isso sim!”
02.01.2013
DESINVENÇÕES
Hoje
me deu de pensar em coisas meio esquisitas.
Naquelas meio estrambólicas e surreais que de vez em quando nos vêm na
cabeça. Aí pensei em desinventar uma das que foram feitas só para atormentar
nosso juízo. Tentei desinventar a saudade. Um pacote vindo da Oceania, uma
ligação no Skype, uma voz distante, tudo pode ser motivo para desinventar a
saudade. Mas logo vi que a saudade é mesmo uma desinvenção meio à toa, pois ela
é aquela coceira que dá por dentro da gente, difícil demais de coçar. Aí desisti. Prefiro essa comichão que vem lá
do fundo e que nunca a gente coça direito, por mais que tente. Mas uma hora qualquer
eu dou um jeito nela. Deixa estar.
04.01.2013
ÁGUAS
É
que muitas vezes somos teimosos, mas não deveríamos insistir tanto com certas
coisas improváveis. Seria útil refletir sobre o exemplo da sabedoria das águas
dos rios, que nunca passam novamente sob a mesma ponte, que contornam
obstáculos ao invés de evitá-los, que percorrem os caminhos de seu destino ora
com a mansidão de quem desfruta o momento, ora com a volúpia frenética de quem
tem certeza de onde quer ir. E assim vão se avolumando e se fazendo poderosos,
se agigantando... Até que um dia viram oceano.
07.01.2013 (com saudades da visão do Velho
Chico virando mar em Piaçabuçu).
CRENÇAS
O
mundo é movido por uma porção de coisas, em primeiro lugar, pela mão onipotente
e poderosa do Grande Arquiteto do Universo. Para alguns tudo é fruto do acaso.
Para outros, este simplesmente não existe. Há os que creem em destino, e há os
que abominem essa ideia. Há quem espere pelo óbvio, que nem sempre acontece. E
há também quem acredite no impossível, que de repente... Pronto! É a vida
seguindo sua trajetória e são os que vivem buscando entender todo esse mistério
de ganhar e perder. Seguir em frente. Conquistar. Um mistério e tanto a ser
desvendado se pensarmos que há muitos que não têm sequer um pouco de fé. É
preciso acreditar na vida e no jeito próprio que ela encontra para tomar conta
de tudo. Eu acho.
16.01.2013
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Publicado na "Antologia Paulista" - Vol.9
Rumo Editorial - SP - 2013
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