Sem mais nem menos, Zizou, eleito o melhor jogador da Copa
Mundial de Futebol de 2006, meteu a cabeça no peito dum futuro campeão, a
poucos minutos da possível honra de erguer o troféu supremo da competição. Com
gosto e raiva, botou o italiano quase a nocaute. Foi expulso. Saiu, em sua
última cena profissional para o mundo, com essa imagem triste e degradante.
Coisa
boa o italiano não deve ter dito para que
tomasse uma porrada dessas, tão certeira e convicta. Ninguém vai saber
ao certo o que aconteceu naquele momento, mas o fato vai ficar bem marcado na
história dessa copa e também na história dos homens que viram essa copa. Ainda
mais com o olho mágico do “grande irmão” que a tudo vê, tudo sabe e tudo passa
em replays devidamente editados segundo sua conveniência.
“Dizque”
teve coisas como chamar a mãe de careca, insinuar que a irmã tem pouca
reputação em certos aspectos; do pai ser isso ou aquilo em relação à hombridade
ou à convicção política, de a mãe ser... pumba! Cabeça no peito!
Deve
ter sido mais ou menos assim, eu cá imagino. Vai saber o limite do ser humano.
Pontapé na canela vale, jogo de corpo vale, encontrão também vale, algumas
rasteiras valem... Tudo vale quando a intenção do ato é honesta. Mas, chamar
irmã disso, pai daquilo e mãe daquilo outro? É o ponto de ebulição. Cabeça no
peito!
Mas
aí é que está! O que vale mais: a cabeça no peito de um inimigo que escolheu as
exatas palavras que tiram um grande herói do sério, ou uma atitude austera,
digna e elegante de um guerreiro que venceu, relevando tais palavras com um
gesto nobre, que não a agressão? Difícil, né? Coloque-se no lugar dos
personagens. O que você teria a dizer ou a fazer?
Daí,
me transporto para nosso mundinho real, pós-copa perdida, pós-decepção,
pós-constatação da grande mediocridade, pós-indignação, pós-um-monte-de-coisas
que andaram meio escondidas em bandeirolas verde-amarelas vendidas pelos
mascates de nossos dias. Muitos deles são pais de família, outros tantos
bandidos, alguns sobreviventes, outros apenas eternos aproveitadores... E assim
vai a vida nesse Brasil – sil – sil, de mil bandeirolas esticadas, de mil
pinturas no chão da rua, na parede e na calçada.
E
assim vai a vida onde todo dia se mata mais um policial em represália ao que
acontece no sistema prisional. Onde todo dia se descobre nova falcatrua desses
que um dia elegemos como dignos de confiança. Onde todo santo dia se vê uma
nova injustiça oficialmente imposta pelos legitimados no poder, que achamos que
fossem os melhores, que mereceram nossa confiança, mas que nos desonraram...
É,
a decepção é algo
muito triste .
Seja lá qual
for o motivo . Acho que
basta ser decepção.
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Publicado em "Antologia Paulista - Vol.6" - Rumo Editorial - São Paulo - 2007
Publicado em "Janela aberta - e outros escritos guardados no tempo" - Rumo Editorial - São Paulo - 2019
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