Nem tanto à propósito, mas me
ocorreu agora como o ser humano tem imensa capacidade de sonhar e acreditar no
improvável. Quando não, no próprio impossível. Um exemplo: cada vez que uma
dessas loterias de números acumula zeros à direita de qualquer algarismo, o
fenômeno se manifesta com grande intensidade.
As filas que se formam diante dos
guinches das casas lotéricas estimula as pessoas a trocarem ideias sobre o que
fariam se ganhassem a bolada toda. O assunto vira até pauta de programas de
rádio e televisão, tamanha a força que as cifras exercem na imaginação das pessoas.
Confesso que não deixo de fazer minha “fezinha”
nessas oportunidades.
Noutro dia, um homem à minha frente
na fila para jogar numa dessas loterias acumuladas, alardeava a quem pudesse
ouvir, de que maneira gastaria a grande bolada. Começou jurando que mandaria o
seu patrão para algum lugar pouco recomendável, e que colocaria uma bomba
debaixo de sua cadeira. Depois disse que compraria casas, carros, iates,
fazendas, e tudo o mais que lhe viesse à cabeça. Em vinte minutos, gastou uma
dinheirama absurda, com os sonhos de consumo mais estapafúrdios que lhe
ocorreram, entremeando-os com vinganças pessoais sem qualquer propósito. E
assim foi até que chegou a sua vez de fazer o jogo. A mocinha do guichê de
apostas devolveu o volante ao gastador, e desejou boa sorte. E lá se foi ele,
rindo à toa e acreditando que o seu jogo seria o ganhador.
Como a grande maioria, e como eu
também naquele momento, o homem da fila nem se deu conta de que a chance dele
vir a acertar o resultado pode beirar o absurdo de uma entre cinquenta milhões.
Isso aumenta enormemente as possibilidades do seu patrão não ser atingido pela
tal bomba. E já que estou falando em probabilidade, creio que ela seja muito
grande de que eu veja o mesmo homem na fila da casa lotérica numa próxima
loteria acumulada qualquer. Nesses casos, diria a velha sabedoria popular: a
esperança é a última que morre, a fé é uma grande virtude, muito embora a
vingança não seja propriamente um bom sentimento.
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