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7.3.20

Rega-bofe













Tem coisas que é melhor nem tentar arranjar explicação, pois não vai ter nenhuma mesmo. Se já sabiam que por um nada o camarada se metia em confusão, pra que é que foram convidar? E quem foi que teve a ideia de chamar também João Francisco se ninguém desconhecia que João Francisco e Bartolo não se bicavam desde que Bartolo também vinha tentando se enrabichar por Cristininha, heim? Quem foi? Deve ter sido o capeta, decerto, pois só mesmo o coisa-ruim pra botar essas pessoas juntas no mesmo ônibus de excursão. Só pode ser. Mas a coisa já estava feita e não dava mais tempo pra desmanchar, quatro da manhã, hora do embarque. De forma que João Francisco sentou-se no segundo banco, Bartolo foi com seu pandeiro lá pros fundos, junto com a turma do batuque, e Cristininha ficou ao lado da mãe, na 23. E pé na estrada.

A manhã estava garoenta e um vento frio soprava do mar virado quando chegaram. E quem falou que isso incomoda? Alguns já desceram do ônibus cambaleando, tanta bebida misturaram no caminho. Quem veio de calção por baixo, já estava prontinho pra rolar na areia e cair na água gelada. Aí fizeram revezamento. Primeiro as mulheres e depois os homens usaram o ônibus como vestiário e quando João Francisco percebeu, Cristininha já estava toda pimpolha metida num biquini preto. Mais tarde, em meio à pelada que corria solta, foi Bartolo quem reparou que Cristininha se desmanchava conversando com um sujeito. Pensou que fosse João Francisco, mas depois viu que João Francisco estava no gol. E a coisa foi esquentando, até que os dois viram quando Cristininha se agarrou com o sujeito, que nem do ônibus era, cheia de amores. Um olhou pro outro, o outro olhou pro um e sem dizer nada, foram até lá e cobriram o cidadão no cacete, até chegar a turma do deixa disso. Cristininha voltou na 23, ao lado da mãe. João Francisco pediu o pandeiro de Bartolo emprestado e foi lá pro fundão, com a turma do batuque. Quem não dormiu, voltou cantando.
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Publicado na Coletânea "A Pizza Literária - sexta fornada" - Legnar Editora - SP - 2000
Publicado no livro "Pipas no caminho - e outros escritos guardados no tempo" - Rumo Editorial - SP - 2018"

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