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26.1.14

Chocadeira











Desde pouco depois que o sol esticava sua luz sobre o lugar e até quando a treva comia tudo de novo para dentro de suas profundezas de negritude abissal. Esse era o tempo que ela usava para ficar acocorada no gramado, chocando os ovos do cramulhão. E era esse também o tempo que ela ficava a destilar seu veneno por todo vivente que se acercasse do ninho insólito onde os ovos do canhoto iam se aquecendo no intuito de eclodir. 

E era ainda mais: quando sentia um calorzinho nas partes de aquecer os ovos do tinhoso, ela se arrepiava e remexia, para melhor ajeitar a prole pestilenta que se avizinhava. E assim ficava, ninhada após ninhada, sempre com o mesmo objetivo de chocar os ovos do coisa-ruim. E quando finalmente eles bicavam o ovo e se espalhavam para exercitar suas maldades, aí era a vez da chocadeira se eximir, resguardar, santificar e espalhar seu riso esganiçado pelo gramado, até que o acinzentado pusesse novos ovos para ela chocar.

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Apresentado na "Pizza Literária" da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
16.01.2014
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