Juventino era bom de prosa, cheio de
querer palpitar em tudo que era assunto, fosse futebol, política, medicina,
agricultura, economia, astrologia. Só não falava nada quando o caso envolvia
mulher. Mas ouvia, muito atento, toda conversa que o pessoal puxava, meio de
propósito, só pra ver a reação do ajudante de pedreiro. Mas sempre permanecia
calado nesse assunto. Vai daí que o povo, que não é bobo nem nada e não precisa
de muito pra tirar conclusão, falava coisas, sabe como é. Tudo meio na surdina,
que ninguém era besta nem de insinuar o que quer que fosse na frente de
Juventino, que só de muque tinha um tanto assim. Mas sabe como é fofoca, né? Um
fala, outro fala, mais outro aumenta e outro lá adiante inventa e a coisa vai
indo, vai indo, até que um dia chega no ouvido do sujeito.
E chegou. Diferente do que meio
mundo achava que fosse acontecer, Juventino não cobriu ninguém na porrada.
Fechou a cara, meio desenxavido e não disse nem a, nem b. No dia seguinte não apareceu
para o jogo de bocha do fim de tarde. No outro dia também não, nem no outro e
nem no outro, até que alguém cismou de perguntar. "Diz que foi pra
Minas", alguém insinuou. A casa ficou fechada por uma semana, que foi o tempo
de Juventino voltar. No domingo seguinte fez a feira de braço dado com uma morena
vistosa, calça justa, cabelos quase pela cintura. Na segunda-feira pela manhã
despediu-se da morena no portão, com um beijo e um aceno. e à tardinha foi para a
pista de bocha e palpitou em tudo quanto foi assunto, menos mulher. Ninguém
abriu a boca pra falar sobre a morena.
***
Publicado na coletânea "A Pizza Literária - sexta fornada"
Legnar Editora - SP (2000)
Publicado no livro "Pipas no caminho e outros escritos guardados no tempo"
Rumo Editorial - SP (2018)
***
Publicado na coletânea "A Pizza Literária - sexta fornada"
Legnar Editora - SP (2000)
Publicado no livro "Pipas no caminho e outros escritos guardados no tempo"
Rumo Editorial - SP (2018)
Nenhum comentário:
Postar um comentário