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26.4.18

Requiem mais ou menos previsto















Pode parecer frio este piso,
pode parecer fúnebre esta hora,
mas por mais que te pareçam lúgubres,
serão os únicos no momento,
que te posso oferecer,
pois não disponho de tempo
e muito menos de opção.

Meu tempo já foi!
Minhas opções já passaram!

Agora só resta constatar que
uma lápide é uma lápide,
seja de mármore ou granito,
seja de ouro ou cimento bruto.
Pois antes de ser lápide,
é somente uma pedra,
e antes ainda de pedra,
é simplesmente o fim.

Meu tempo já passou.

Neste instante só resta um réquiem
e alguém que chora, embora à toa.
Só resta o dia de hoje que continua
e uma expectativa de que anoiteça.
No mais, será silêncio sob a pedra,
silêncio sob o nada e sob o chão
e principalmente sobre tudo.

Só silêncio, pois meu tempo já passou!

Não se recordarão mais de mim,
tão logo parem um taxi,
tão logo digam um destino qualquer,
no engarrafamento da cidade.

Estarei tão distante quanto nunca esperariam,
tão longe quanto nunca imaginavam que estivesse,
e estarei bem. E melhor, como nunca antes!

Melhor, porque o meu tempo já passou!

Sem que ninguém visse ou percebesse,
sem que o mundo se desse conta.
Meu tempo foi o melhor e já acabou.
Antes que o de muitos acabem, como desejariam,
e antes mesmo que o de muitos sejam.
Meu tempo acabou.

E não lamento que assim seja.
Lamento se houver choro, pois será inútil.
Lamento se chover, pois atrapalhará as pessoas,
e o trânsito ficará caótico.
É só por isso que lamento!
De resto, vou feliz para meu lugar de pedra,
e para não voltar, pois deste mundo já tive tudo,
por pouco que possa errar.

Mas volto se quiserem me reencarnar,
só para agradar meus amigos crédulos
só para não dizer que fui do contra,
e porque não quero deixar mágoa nenhuma,
nem mesmo dentre os que recolheram minhas coisas
depois deste dia em que meu tempo acabou.

E se voltar, espero revê-los,
se é que vocês também vão voltar.
Que voltemos ao menos para pequenos pecados,
para beberemos nos mesmos bares,
frequentarmos os mesmos lugares,
termos as mesmas mulheres,
sofrermos as mesmas dores,
e suportarmos o mesmo mundo dos reencarnados.

Mas, por hoje estou indo,
pois o meu tempo se acabou.

Acabou porque chegou hora e vez,
e pois, talvez,  já tivesse feito de tudo,
pois este mundo oferece opções demais!
Ou talvez porque não tivesse sabido aproveitar.

Oh! Mundo tão vário, lá fui eu!
Quanta coisa vivi e quantas não pude saber!
Mas lá fui eu, assim mesmo,
Pois meu tempo se acabou!

Até já!

***
Publicado no livro "Para bem existir - e outros escritos guardados no tempo"
Rumo Editorial (SP) - 2017

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