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11.2.20

Infâncias de antigamente
















Na esquina de minha antiga rua
ficou o sonho
junto ao pega-pega e ao pião.
Carrinho era lata velha de sardinha
entreaberta, puxada por um cordão.
Mas foi bom.
Ana-Mula, esconde-esconde, 
mãe-da-rua, balão.
Ficou também nessa esquina
a pele do meu joelho
na memorável pelada contra a rua-de-cima
que tinha um timão.
Mas ganhamos, e foi bom.
Na esquina da minha antiga rua
tinha goiabeira.
Goiaba roubada é que era bom.
Tinha a vidraça da Dona Maria
que volta e meia se espatifava no chão.
E um ninho de marimbondos
que vivia cravado de setas de papel.
Marcha-soldado, sentido, atenção!
Nossa, como foi bom.
De vez em quando olho a criançada 
brincando na rua.
Dá vontade de gritar:
No meu tempo é que era bom!
... Ou será que não?

***
Publicado na Antologia Paulista - Vol.2 - Legnar Editora - SP
Publicado no livro "Pipas no caminho - e outros escritos guardados no tempo" - Rumo Editorial - SP

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