Para toda vida
Há algum tempo atrás o meu conceito para coisas que deveriam
durar ad perpetuam rei memoria era
bem diferente do que constatei hoje, enrolando uma mangueira de jardim, logo
pela manhã. Minha mulher, comandando a operação, dizia: “Se a gente enrolar
como estou falando, esta mangueira vai durar para sempre”. Eu não disse nada,
mas pensei: “Claro! Afinal, o nosso ‘para sempre’ já está bem mais plausível
para se acreditar hoje em dia do que há algum tempo. A maioria dos produtos que
temos atualmente, com toda sua obsolescência planejada, há de durar bem mais do que
nós.” Eles é que hão de durar para
sempre, já que não os veremos sucumbir.
Tudo igual
Quase todas
as coisas materiais que eu pretendia preservar, por algum motivo: a) já se
acabaram; b) estão jogadas e esquecidas em algum canto; c) ou, em boa dose,
estão irremediavelmente se deteriorando e indo embora aos poucos. Estão virando
trastes inúteis, findando, voltando ao pó preconizado no Eclesiastes. É por
isso que estou começando a ficar preocupado com minhas dores na coluna, com a compressão
neurológica de pernas e membros superiores, com os 160 mg. de losartana ingeridos
diariamente e com outras pequenas novidades que estão aparecendo cada dia. Mas...
Toca o barco!
Pior
Às
segundas-feiras meu compromisso com um grupo de amigos muito querido é
inadiável. No início da manhã desta segunda voltei do litoral para me preparar
adequadamente para o encontro. No meio da tarde recebi uma ligação para
confirmar a presença. Confirmei. Ainda no meio da tarde liguei para o “mecânico
da família”, pedindo para que viesse ver meu carro no dia seguinte, pois ele (o
carro) não andava lá essas coisas. No fim da tarde entrei no carro e fui para o
trânsito já meio carregado de Sampa. No meio do caminho, o bandido do carro
resolveu confirmar o que eu temia. Espumou, roncou, ferveu, fumegou. Quase não
consegui levá-lo de volta para casa, após uma parada “à espera de um milagre”. Encarei o congestionamento de volta. Cheguei
em casa. No começo da noite meus amigos me ligaram para me cumprimentar pela
gastura que o tempo vem causando em mim e nas coisas à minha volta. Agradeci aos que iam pegando no celular de um
de meus amigos e dando sua mensagem. Até que a linha caiu. Definitivamente, não
é fácil lidar com coisas velhas!
Carpe Diem! (só para variar)
Muitos amigos
sabem que não curto muito esse lance do meu aniversário, o que aliás, parece
extremamente antipático para boa parte das pessoas. Peço desculpas. Mas não é
história para contar agora. Afirmo, no entanto, que isso não é pela consciência
de saber das coisas que a idade nos impõe, pois gente feliz, e gente feliz
sempre, não importa onde esteja doendo ou o que “esteja pegando”. Eu sempre
topo um CARPE DIEM, em qualquer circunstância, e meus verdadeiros amigos também
sabem muito bem disso. Então eu reverencio minhas razões e me recolho. Alimento algumas de minhas esperanças e
agradeço, sempre, ao Grande Arquiteto do Universo e também aos amigos que sempre
me recordam que estou vivo, apesar de tudo que houve ou vier! E percebo que,
isto sim, é que vale a pena! E que assim
seja! ___________________________________________
Apresentado na Pizza Literária da SOBRAMES-SP
18.09.2014
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