A vida
O sol que nasce e se põe. A respiração.
Uma flor se abrindo. Cores. Uma onda esmorecendo para ressurgir. Um abraço. O
espreguiçar e a maciez de um gato. A luz de uma manhã de primavera. Fome. Um
abandono qualquer. Gratidão. Uma lágrima. Nó na garganta. Serenidade. Justiça
que (não) acontece. Uma nuvem solitária no céu. A imensidão de uma paisagem. O
vazio de uma solidão. A tessitura de um amanhecer.
O poente. O choro incompreendido de uma
criança. Desapegos. Os matizes da aurora. Ingratidão. A intensa agonia do
sofrimento. Morte. O gozo. A irrepreensível agonia da morte. Uma delicadeza
qualquer. A incompreensão da morte. A incompreensão da vida. A incompreensão.
Um silêncio interminável. A sabedoria. Um azul intenso. A efemeridade do azul.
A efemeridade ainda maior de uma borboleta azul. Um sono sem sonhos. Um céu nublado. Pesadelos.
A urgência. A brevidade. A volúpia dos acontecimentos. O insulto. O perdão. A inversão
de valores. Uma queda livre. A culpa. Um
pouso suave. Arrogância. Chegar. Partir. Julgar. Voltar. A complexidade do
regresso. A brevidade de uma brisa. Uma rachadura no solo árido. A mentira.
Degeneração. A possibilidade de voar dos pássaros e borboletas. A verdade. A
agonia da falta de asas. A fome. Começar uma desavença. Odiar. Incompreensão.
Um perfume inesquecível. O arrependimento. Todas as cores de um camaleão.
Saudades. Perfume de pão. Pele. Falsidade. Reencontros. Uma nota dissonante.
Uma melodia inebriante. Um toque suave.
O beijo. Aroma de banho. Sinceridade. Compreensão.
Infinito. O paraíso. Et cetera.
Eclesiastes 12; 1 e 7
1. Lembra-te também do teu Criador nos dias da
tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas
a dizer: Não tenho neles contentamento; (...)
7. E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
7. E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
A morte
Tudo nos
levará à morte. Comer demais, comer de menos. Não comer. Praticar exercícios ou
o ostracismo. Prever ou remediar. Dançar ou apenas apreciar a dança. Rir ou
chorar. Praticar o bem. Ou não.
Humildade ou soberba. Cumprimentar ou dissimular. Ostentar ou compartilhar.
Osteoporose. Cirrose. Deficiência cardíaca. Infarto. Degeneração hepática.
Câncer. Males em geral. Atrofias. Atropelamento. Assalto. Acidente.
Benevolência. Conluio. Traição. Crime passional. Qualquer banalidade. Tudo nos
levará à morte. Nariz empinado. Rejeição. Tolerância ou não. Benevolência.
Empáfia. Arrogância. Empatia. Dignidade ou falta dela. Ética ou podridão. Qualquer atitude nos levará à morte. Ser ou
não ser. Talvez seja essa a questão.
Disciplina ou anarquia. Aceitar ou rejeitar. Conluio, trama, degeneração. Tudo
certamente nos levará à morte. Ter. Não ter. Trabalho. Roubo. Tudo. Nossa
ganância e nossa insuficiência. Nossa soberba e nossa intolerância. O bem e o
mal. A dualidade e a falta de opção. Qualquer dessas coisas nos levará à
morte. Qualquer uma. E o tempo é tão
curto... Imensamente curto.
Além
A felicidade é o encontro certeiro, quando
alcançada a compreensão da real fraternidade. O amor é dádiva suprema,
concessão do Grande Arquiteto do Universo, quando alcançamos a graça de o
recebermos. A vida é enigmática e paradoxal: é ao mesmo tempo efêmera tanto e
quanto eterna. Já o Criador espera nosso retorno em algum lugar, além, muito
além de nossa compreensão.______________________________________________________________________
Publicado na coletânea "A Pizza Literária - décima terceira fornada"
Rumo Editorial - São Paulo - 2014
_______________________________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário