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18.1.15

Algumas coisas quase sem explicação













A vida
O sol que nasce e se põe. A respiração. Uma flor se abrindo. Cores. Uma onda esmorecendo para ressurgir. Um abraço. O espreguiçar e a maciez de um gato. A luz de uma manhã de primavera. Fome. Um abandono qualquer. Gratidão. Uma lágrima. Nó na garganta. Serenidade. Justiça que (não) acontece. Uma nuvem solitária no céu. A imensidão de uma paisagem. O vazio de uma solidão. A tessitura de um amanhecer.  
O poente. O choro incompreendido de uma criança. Desapegos. Os matizes da aurora. Ingratidão. A intensa agonia do sofrimento. Morte. O gozo. A irrepreensível agonia da morte. Uma delicadeza qualquer. A incompreensão da morte. A incompreensão da vida. A incompreensão. Um silêncio interminável. A sabedoria. Um azul intenso. A efemeridade do azul. A efemeridade ainda maior de uma borboleta azul.  Um sono sem sonhos. Um céu nublado. Pesadelos. A urgência. A brevidade. A volúpia dos acontecimentos. O insulto. O perdão. A inversão de valores. Uma queda livre.  A culpa. Um pouso suave. Arrogância. Chegar. Partir. Julgar. Voltar. A complexidade do regresso. A brevidade de uma brisa. Uma rachadura no solo árido. A mentira. Degeneração. A possibilidade de voar dos pássaros e borboletas. A verdade. A agonia da falta de asas. A fome. Começar uma desavença. Odiar. Incompreensão. Um perfume inesquecível. O arrependimento. Todas as cores de um camaleão. Saudades. Perfume de pão. Pele. Falsidade. Reencontros. Uma nota dissonante. Uma melodia inebriante.  Um toque suave. O beijo.  Aroma de banho. Sinceridade. Compreensão. Infinito. O paraíso. Et cetera.

Eclesiastes 12; 1 e 7
1. Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; (...)
7. E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

A morte
Tudo nos levará à morte. Comer demais, comer de menos. Não comer. Praticar exercícios ou o ostracismo. Prever ou remediar. Dançar ou apenas apreciar a dança. Rir ou chorar.  Praticar o bem. Ou não. Humildade ou soberba. Cumprimentar ou dissimular. Ostentar ou compartilhar. Osteoporose. Cirrose. Deficiência cardíaca. Infarto. Degeneração hepática. Câncer. Males em geral. Atrofias. Atropelamento. Assalto. Acidente. Benevolência. Conluio. Traição. Crime passional. Qualquer banalidade. Tudo nos levará à morte. Nariz empinado. Rejeição. Tolerância ou não. Benevolência. Empáfia. Arrogância. Empatia. Dignidade ou falta dela. Ética ou podridão.  Qualquer atitude nos levará à morte. Ser ou não ser. Talvez seja  essa a questão. Disciplina ou anarquia. Aceitar ou rejeitar. Conluio, trama, degeneração. Tudo certamente nos levará à morte. Ter. Não ter. Trabalho. Roubo. Tudo. Nossa ganância e nossa insuficiência. Nossa soberba e nossa intolerância. O bem e o mal. A dualidade e a falta de opção. Qualquer dessas coisas nos levará à morte.  Qualquer uma. E o tempo é tão curto... Imensamente curto.

Além
A felicidade é o encontro certeiro, quando alcançada a compreensão da real fraternidade. O amor é dádiva suprema, concessão do Grande Arquiteto do Universo, quando alcançamos a graça de o recebermos. A vida é enigmática e paradoxal: é ao mesmo tempo efêmera tanto e quanto eterna. Já o Criador espera nosso retorno em algum lugar, além, muito além de nossa compreensão.

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Publicado na coletânea "A Pizza Literária - décima terceira fornada" 
Rumo Editorial - São Paulo - 2014
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