Sempre aguardo com certa ansiedade a
chegada de minhas cartas pelo correio, entregues pontualmente nos fins de
tarde, de segunda a sexta-feira. O velho e bom correio com suas cartas de
papel, guardadas em envelopes das mais variadas formas e cores, seladas ou
simplesmente chanceladas. Ainda me encanto com essa forma de receber notícias
ou informações, apesar de toda a tecnologia da informática à qual já me
habituei e da qual faço uso com grande intensidade.
Recebo meus e-mails
diariamente, em dois ou três endereços que utilizo para esse fim.
Invariavelmente chegam “envelopes” de emitentes que eu não conheço. Na maioria
das vezes, propaganda, coisas sem a mínima utilidade ou praticidade,
pornografia, mensagens contendo os detestáveis vírus de computadores, a peste
moderna, enfim, coisas que não pedi, de gente que não conheço. Pegam meu
endereço na internet e entulham minha caixa de correspondência virtual com
porcarias. Este talvez seja o maior ônus deste correio cibernético, que embora
tenha vindo facilitar, agilizar e beneficiar a nossa vida quotidiana, também
veio nos trazer inúmeros problemas e aborrecimentos.
Algo parecido pode estar acontecendo
com as cartas que recebo pelo velho e bom correio convencional. Tenho percebido
isso pelo crescimento da quantidade de envelopes de pessoas e entidades com as
quais nunca me relacionei que chegam a meu endereço. A grande maioria,
evidentemente, correspondência com objetivo comercial: propostas de abertura de
linhas de crédito em bancos, assinaturas de revistas, catálogos de produtos
supérfluos, cartas de políticos (não somente em época de eleição), propostas
para troca de aparelho celular, extratos de banco, contas de telefone, contas
de água, contas de luz, contas de provedor de internet, contas de tv a cabo...
Tudo muito parecido com o correio virtual na internet.
Ainda assim eu continuo muito
encantado pelo correio físico, aquele de envelopes, selos e carimbos. Acho que
não há nada comparável ao ato de escrever uma carta, colocá-la num envelope, fechar
esse envelope, levar esse envelope aos correios, esperar na fila e pedir,
cerimoniosamente à mocinha do atendimento, por uma “carta simples”. E ver que ela, num gesto dissimulado e também
simples, apenas vira o envelope de um lado e do outro, pois isto faz parte do
cerimonial, coloca o envelope numa balança a seu lado, e diz o valor da
postagem.
Parece simples, mas não é. Ao dizer
o valor dessa postagem, a mocinha está também dizendo uma espécie de “amém” ao
que nós próprios temos que dizer a quem destinamos nossa carta. É nisso que
está a magia! É como se você precisasse pedir autorização para dizer o que quer
dizer a quem quer dizer e recebesse a aprovação imediata e irrestrita, sem
qualquer questionamento. Não que a mocinha dos correios tenha algo a ver com
isso, mas...
Resolvi divagar sobre este singelo
ato de enviar uma carta, apenas para confirmar minha convicção de que o correio
é uma instituição fundamental em nossa sociedade. Acho que a internet e as
correspondências virtuais jamais ocuparão o lugar do velho, tradicional, seguro
e confiável Correio do Brasil. Só ele é capaz de me trazer a certeza palpável
da informação que alguém queria me enviar ou da que eu precisar remeter para
alguém. E o que é melhor, dificilmente virá com algum vírus que me traga
prejuízo imediato, como os tais de computador. A não ser, é lógico, que seja
uma carta-bomba ou uma contendo o tal anthrax. Mas aí a conversa já é bem
outra.
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Publicado na Antologia Paulista - Vol.10
Rumo Editorial - São Paulo - 2015
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