– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Vá até a casa de Josefina e diga pra ela me mandar um moleque
que seja bom das pernas e que saiba dar recado!
– Sim, senhor!
– Vá correndo e volte voando! E não me chegue depois do menino!
– Sim, senhor!
– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Onde vai com tanta pressa, se nem terminei de dar as ordens?
Diga pra Josefina que não me mande o caçula! Esse tem pernas de gazela e juízo
de uma galinha! Entendeu? Não serve pra levar recado!
– Sim, senhor!
– Então se apresse que já perdeu muito tempo!
– Sim, senhor!
– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Diga também a Josefina que não me mande o mais velho!
– Sim senhor!
– Não vai perguntar por que, seu Firmino?
– Não, senhor!.... Quer dizer... Sim, senhor!
– Ou é sim senhor ou é não senhor, seu Firmino! Quer saber ou
não quer saber porque é que eu não quero que Josefina me mande o mais velho?
– Sim, senhor!
– O mais velho é coxo! Esqueceu disso, seu Firmino?
– Não, senhor!
– O mais velho serve pra recado que não seja urgente! E o recado
que eu tenho pra mandar pelo menino que Josefina vai mandar é urgente!
Entendido, seu Firmino?
– Sim, senhor!
– Se apresse então, seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Diga também a Josefina que apareça logo mais à noite, sem os
meninos! Quero ter um dedinho de prosa com ela! Entendido?
– Sim, senhor!
– Pois corra, então, fazer o que lhe mandei!
– Sim, senhor!
– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Diga a Josefina que venha logo mais à noite, mas não diga pra
mandar menino nenhum pra levar recado. Mudei de ideia. Não vou mais mandar
recado nenhum...
– Sim, senhor!
– Seu Firmino!
– Sim, senhor!
– Não vai querer saber porque eu não vou mais mandar recado
urgente nenhum?
– Não, senhor!... Quer dizer... Sim, senhor!
– Não é de sua conta! Vá fazer o que lhe mandei e pronto!
– Faço o quê, afinal, coronel?
– Como, “faço o quê”? Vá chamar Josefina! É pra já!
– Pra já ou pra de noite, Coronel?
– Pra já!
– E os meninos?
– Já lhe disse pra não trazer menino nenhum! Onde já se viu
falar com Josefina com menino por perto! Sabe do que eu vou falar com ela, não
sabe, seu Firmino?
– Sim, senhor!... Quer dizer... Não, senhor! Acho que sei...
– Seu Firmino, seu Firmino! Olha a ousadia, seu Firmino! Minha
conversa com Josefina é assunto meu, tá entendendo, seu Firmino?
– Sim, senhor!
– Quer saber o que mais, seu Firmino?
– Sim, senhor!
– Não me chame mais ninguém!
– Nem Josefina?
– Nem Josefina!
– E a conversa que o senhor ia ter com ela?
– Perdi a vontade...
– Então... posso ir, coronel?
– Ir pra onde? Não acabei de dizer que perdi a vontade?
– Embora, coronel... Posso ir embora?
– Vai, cabra leso! Se fosse mais urgente
não ia dar tempo mesmo... Fica nesse “sim, senhor” , “não, senhor” o tempo
todo... Acabei perdendo a vontade...
***
Publicado nos livros:
Antologia Paulista - vol.2 - Legnar Editora - SP - 2000
Pipas no Caminho - e outros escritos guardados no tempo - Rumo Editorial - SP - 2018
Um comentário:
Como eu ia comentar...Seu Firmino...
O quê mesmo?
Nao sei mais...Desisti.
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