Encontre o que quer ver

24.3.18

Seu Firmino e o coronel






             Seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Vá até a casa de Josefina e diga pra ela me mandar um moleque que seja bom das pernas e que saiba dar recado!
            Sim, senhor!
            Vá correndo e volte voando! E não me chegue depois do menino!
            Sim, senhor!
            Seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Onde vai com tanta pressa, se nem terminei de dar as ordens? Diga pra Josefina que não me mande o caçula! Esse tem pernas de gazela e juízo de uma galinha! Entendeu? Não serve pra levar recado!
            Sim, senhor!
            Então se apresse que já perdeu muito tempo!
            Sim, senhor!
            Seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Diga também a Josefina que não me mande o mais velho!
            Sim senhor!
            Não vai perguntar por que, seu Firmino?
            Não, senhor!.... Quer dizer... Sim, senhor!
            Ou é sim senhor ou é não senhor, seu Firmino! Quer saber ou não quer saber porque é que eu não quero que Josefina me mande o mais velho?
            Sim, senhor!
            O mais velho é coxo! Esqueceu disso, seu Firmino?
            Não, senhor!
            O mais velho serve pra recado que não seja urgente! E o recado que eu tenho pra mandar pelo menino que Josefina vai mandar é urgente! Entendido, seu Firmino?
            Sim, senhor!
            Se apresse então, seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Diga também a Josefina que apareça logo mais à noite, sem os meninos! Quero ter um dedinho de prosa com ela! Entendido?
            Sim, senhor!
            Pois corra, então, fazer o que lhe mandei!
            Sim, senhor!
            Seu Firmino!
            Sim, senhor!
            Diga a Josefina que venha logo mais à noite, mas não diga pra mandar menino nenhum pra levar recado. Mudei de ideia. Não vou mais mandar recado nenhum...
            Sim, senhor!
            Seu Firmino!
Sim, senhor!
            Não vai querer saber porque eu não vou mais mandar recado urgente nenhum?
            Não, senhor!... Quer dizer... Sim, senhor!
            Não é de sua conta! Vá fazer o que lhe mandei e pronto!
            Faço o quê, afinal, coronel?
            Como, “faço o quê”? Vá chamar Josefina! É pra já!
            Pra já ou pra de noite, Coronel?
            Pra já!
            E os meninos?
            Já lhe disse pra não trazer menino nenhum! Onde já se viu falar com Josefina com menino por perto! Sabe do que eu vou falar com ela, não sabe, seu Firmino?
            Sim, senhor!... Quer dizer... Não, senhor! Acho que sei...
            Seu Firmino, seu Firmino! Olha a ousadia, seu Firmino! Minha conversa com Josefina é assunto meu, tá entendendo, seu Firmino?
            Sim, senhor!
            Quer saber o que mais, seu Firmino?
            Sim, senhor!
            Não me chame mais ninguém!
            Nem Josefina?
            Nem Josefina!
            E a conversa que o senhor ia ter com ela?
            Perdi a vontade...
            Então... posso ir, coronel?
            Ir pra onde? Não acabei de dizer que perdi a vontade?
            Embora, coronel... Posso ir embora?
            Vai, cabra leso! Se fosse mais urgente não ia dar tempo mesmo... Fica nesse “sim, senhor” , “não, senhor” o tempo todo... Acabei perdendo a vontade...

***
Publicado nos livros: 
Antologia Paulista - vol.2 - Legnar Editora - SP - 2000
Pipas no Caminho - e outros escritos guardados no tempo - Rumo Editorial - SP - 2018


Um comentário:

ljorge disse...

Como eu ia comentar...Seu Firmino...
O quê mesmo?
Nao sei mais...Desisti.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...