De repente
eu me
lembrei do Quimério, que sabia que tinha mal de chagas ,
criava duas galinhas pestilentas e devia
cinco meses de aluguel
para seu
Agenor. Devia também no armazém , mas esse era o tipo de dívida que não
incomodava ninguém , pois
o seu Armando não
sabia cobrar os de sua
caderneta . Tinha
até vergonha
de dizer “ô, fulano , você tá me devendo tanto ”.
Sabe como é essa gente
simples de tudo ,
não é?
E não
é que deu na Paratodos? Quimério
arriscou um mês
de armazém , mas
tinha na mão
o premiado. Sabendo do resultado foi lá no bar do
Zito, que não
negou o serviço e pagou o jogo . Afinal , vale o escrito , por três dias ! Quimério mandou baixar
cerveja na mesa
de madeira sem
polimento . Bebeu e se encharcou de tanta alegria com seus colegas de bar .
Mas ficou devendo no armazém de seu
Agenor. O dinheiro não
deu nem para pensar num exame do coração , que
acabou enterrando Quimério, assim , sem mais nem menos , coisa de um ou dois dias depois ...
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Publicado em "Antologia Paulista - Vol.6" - Rumo Editorial - São Paulo - 2007
Publicado em "Janela aberta e outros escritos guardados no tempo" - Rumo Editorial - São Paulo - 2019
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